domingo, 2 de agosto de 2009

Dos monólogos no Coletivo

"Non ridere, non lugere, neque detestari, sed intelligere"


O indivíduo na obediência cívica, sujeito ao meio social de uma urbanização como a cidade de São Paulo, bom contribuinte, de itinerário não contestado, livre, necessário, frequente, sente-se não diferente de um corpo composto em transformação por influência de outros corpos, como também um objeto transformador nesta coisa grande e viva a que chamamos sociedade. É fato a unificação do ser, em pensamento e impulso, em uma situação como a plataforma da Sé às seis horas da tarde. É unicelular, é protista. Em consequência, a ameaça à individualidade da opinião, a mediocridade e o estereótipo das pessoas nestes acúmulos em um lugar-comum, ao qual a crítica, a crônica e a prosa formam um ponto socio-literário singular, não classificado, não produtivo, não elaborado, não interessante e demasiadamente não democrático. Não associar-me ao meio público por repugnância ao fétido, ao não civilizado, ao não profissional, ao que não é poesia vinda de vendilhões e pedintes, ao contato não desejado, ao resmungo, ao desigual, ao absurdo, ao meu próprio pensamento. E o indivíduo, portanto, não existe na sociedade como indivíduo sem impedir que outros o integre, observem-no, persuasam-no. Sem repudiar o excesso de benção, a trágica andança, a boa vontade, o ponto de vista, a moeda no bolso, a cabeça no ombro, a carona oferta, o banco cedido, o assédio, o interlocutor passivo, as idéias de melhoria. Não adianta, não adianta. É preciso aceitar a cidadania.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Política, Jazz e Chivas Regal

"A decisão cristã de achar o mundo feio e mau tornou o mundo feio e mau."





A dissimulação é a clave musical da política, de efeitos não éticos e em circunstâncias não morais, que funciona como o bequadro de uma partitura anulando os sustenidos e bemois. Se exercitada é habilmente executada. Os maiores melodistas fazem-no de tão belo esmero, ganham aplausos, convite a restaurantes, apadrinham recém nascidos, nomeam aliados, voos internacionais, hotéis, licença de entrada a eventos. Todos querem-no bem porque emociona, toca bem fundo no coração. E convenhamos que o coração é dos misantropos o último a que devemos mandar ao tribunal.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Do teatro dos Cronistas

O medo é a canção de ninar no escuro dos solitários. Tristeza natural e mórbida refletida da ribalta. Lição. Iniciação. Dos velhos porque sentem perder os sentidos de uma vida inteira, os filhos, a família. Das crianças, a distância dos pais. Do soldado, a tricheira inimiga, a dívida do mês. Mais verdadeiro e triste que o amor quando triste e verdadeiro, porém ameaçadores em conjunta igualdade, adoecem, preservam, abandonam-no. A casca a ser perdida ou recomposta. Subterfúgio para sentir ternura, importância, alguém. Não ser escutado o cicio e o choro embaixo da coberta. Dormir para não participar da vida. À vida, à vida. De intempéries e clandestinidades, somos movidos e manipulados, e ainda assim, descontentes, dedicamos tudo à vida. L'enfer, c'est les autres.
À vida damos tramela, certificamos familiaridade, unimos os próximos, encarceramos os tortos e abdicamos a miséria com pá, terra e caixão. A morte é também miséria. A derradeira. E cordiais os assassínios que tirarem a dor amarga e multípla dos meu órgãos. E ao homem que criar meus filhos e respeitar meus vizinhos na casa que lhe deixei, o louvor das chuvas na plantação. Tereis paciência ao final do espetáculo, vanguarda na velhice. E digno ao homem, o teu medo lhe seja.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

A Boa Notícia

Nenhuma notícia é boa notícia. E não há verdade semelhante que dê à atual sociedade tão óbvia afirmação, não se baseando apenas em veiculação jornalística mas, principalmente, na recepção pública do fato, tornando-nos suscetíveis e acuados a ponto de vivermos atentos em uma cláusula imposta pelo excesso de informação, tal como causam as barbáries e o apunhalamento final da mídia. Explico. Centenas de assaltos, mortalidade infantil, homicídios, vingança, trâmites, rusgas, acovardamento, tombamento, falência súbita, reais iniquidades contra si próprio, a um e a muitos preenchem diariamente os regitros do poder executivo, e assim como o legislativo e o judiciário. E o quarto poder, ou então conhecido noticiário dispõe-nos de sua labuta e relatar, por volta das seis horas da noite, eloquentes como um pastor, conclusivos como um indignado acerca do cotidiano não próspero. Entendo que a continuidade dos fatos é uma conduta jornalística, mas, por Deus entendam não é uma boa música a ser ouvida repetidas vezes.
O tempo válido em nossa vida é dedicado ao trabalho e obrigações. E o tempo de lassidão que temos para encurvar na poltrona, restabelecer a mente e vaguear em pensamentos, meditar e convalescer o espírito, isto, não dispomos a nós próprios uma hora ao dia o exercício de pensar livremente. Também não é válido o tempo para discutirmos assuntos, opniões, reflexões e até asneiras, pergunto. É também inválido o tempo para ouvir a crônica das crianças na saída da escola, olhar uma figura interessante que ande pelas ruas, a poesia de uma boa música repetidas vezes, pergunto.

domingo, 26 de julho de 2009

A propósito do Velho Truísmo

"lutar com palavras é a luta mais vã
entanto lutamos mal rompe a manhã
são muitas, eu pouco"


Acumulei paciência o suficiente nestes anos, a partir da invenção destas comunidades de relacionamento virtual, perca de privacidade, abusos, extorsão, difamação, entretenimento e, de vez em quando, informação. Não tarde, antes da grande seca no mundo, haverá um grande e desastroso conflito mundial entre as nações de decifradores, sob interesse político e econômico, cujo chamaremos de e-war ou e-www (e-world wide war). A profecia não é de sétimo-dia, o Pentágono já acionou alguns meninos de óculos armados para se proteger contra ameaças vindas de Pequim e fazer linha de frente. Vitalmente nenhum dano, aparentemente, se dará contra as criancinhas, trabalhadores, cidades e igrejas. Ao invés de êxodo de famílias, o de contas bancárias e de inumeras redes de sistemas em telefonia, empresarial, jornalística, de contrabandistas, de energia, terrorismo, criminalista, judiciarista, petrolifera e pornografica. Menos mal, pensaremos. Porém, tal conflito constrangeria tão ofensivamente a tecnologia e inteligência destes países e meninos desenvolvidos que acabariam se atracando com ogivas de mouses e teclados nucleares uns com os outros, ou me dirá que nunca sentiram a hostilidade destes seres computadorizados, cús de ferro, assim que inferiorizados em suas inteligências e capacidades. Nunca um messenger roubado, nunca uma senha descoberta. E, como não bastasse, coincidências de identidade, legitimidade, créditos, direitos, valores morais, perseguição e sequestros. Uma verdadeira guerra, com campos de concentração, lan houses, racismo, oportunismo, fracasso, espionagem, bombas, hipometropia, escoliose, Alcebíades viciosos e, no final da resistência, um tratado e as sequelas. Não cancerígenas apenas, mas principalmente a incapacidade psicológica e demência. A propósito, por estes motivos proponho a todos o Tratado do Velho Truísmo. Como sabemos, tudo acaba. E tão importuno seria escrever ainda que falte tempo de elaboração e idéias convencionais. Mas este é um outro assunto.